mercoledì 1 aprile 2009

A primeira vítima- Giselle Sato




Alice apertou as faixas em volta do abdome inchado,tentando esconder a barriga de quase oito meses de gravidez, mal podia respirar. Temia a sociedade londrina, austera e impiedosa.
A mulher vivia em um cortiço no bairro pobre de Whitechapel, área de prostitutas e bandidos.

Se a senhoria desconfiasse de qualquer deslize seria expulsa e jamais conseguiria outra vaga. Planejava trabalhar mais uma semana e ter a criança, cujo destino seria a roda dos enjeitados.
Por mais dura que fosse a vida em Londres, não queria terminar os dias arando terra e cuidando de porcos no interior da Inglaterra.
As jarras pesadas de cerveja preta eram um tormento. Enchia as canecas, servia os fregueses, recolhia os vasilhames sujos e passava ligeiramente em uma tina de água encardida. As mãos doloridas e esfoladas. O patrão, do alto do balcão, gritava com as moças e exigia mais rapidez nas tarefas.

No velho Pub Ten Tells, os homens bebiam sem parar. Aos poucos as vozes aumentavam. Algumas discussões começavam do nada e sempre acabavam em briga. Piadas sujas eram repetidas inúmeras vezes. Mãos atrevidas tentavam tocar as ajudantes de salão.
Sarah recebia as melhores gorjetas. Ela não se importava de sentar no colo dos bêbados ou exibir os peitos caídos, Alice recusava. Algumas vezes, Sarah ia para o beco dos fundos e por alguns xelins recebia vários homens. O patrão fingia não perceber em troca de favores gratuitos no final da noite.

Três horas da madrugada e Alice ainda varria o chão e limpava as mesas. Dois relutantes bêbados urinavam na calçada e riam descontrolados. Um vizinho irritado, atirou uma garrafa de um prédio próximo. Silêncio.
Chovia e a temperatura havia caído muito. Os pés de Alice estavam dormentes e o corpo doía. Mal acreditou quando atravessou a porta da rua e respirou aliviada por haver cumprido mais um longo dia.
O bairro escuro e mal freqüentado estava vazio. Não tinha medo, preferia voltar sozinha à companhia das colegas de trabalho. Uma viela fedorenta, mais dois quarteirões e estaria em casa.

Mãos surgiram das sombras. Pesadas, em torno do pescoço e da boca. Apertavam com força obrigando a entrega. O som das roupas sendo cortadas pela lâmina afiada,o sobretudo de lã roçando a pele exposta, o cheiro da colônia cara, os sentidos captando cada detalhe.
O homem parou quando as últimas faixas foram arrancadas. Surpreso, tocou a barriga da mulher com a ponta dos dedos. O corpo frágil foi atirado ao chão:-Falsa! Pecadora imunda! Como se atreve a tentar me enganar? Ainda serás castigada!

Foram as únicas palavras. Os passos afastando-se na madrugada, deram-lhe forças para se arrastar até a parede úmida.
Mal embrulhada no velho xale, conseguiu chegar ao quartinho acanhado e juntar os poucos pertences.
O dia amanhecia quando Alice chegou à estação de trem. Precisava embarcar e tentar esquecer todo o horror sofrido. Ir para bem longe da cidade que abrigava o monstro.
O cheiro almiscarado jamais seria esquecido. O toque das luvas macias, a dicção perfeita, marca inconfundível da nobreza.Tudo naquele homem indicava poder.
Alice sentia que se procurasse a polícia em busca de proteção, seria uma mulher morta. Ele a encontraria onde quer que fosse, atribuía ao desconhecido poderes sobrenaturais.

Quando sentiu o trem deslizando nos trilhos, respirou aliviada, afastando-se cada vez mais rápido, para bem longe do mal.
Londres iniciou um ciclo violento de crimes bárbaros naquela noite. Um conhecido maníaco de nome Jack assombraria por algum tempo cada beco mal iluminado, transformando o pesadelo mais temido em realidade macabra.

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